quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Cornhills e o Café Jacu

Ricardo Icassatti Hermano

O blog Café & Conversa experimentou ontem o famoso Café Jacu, vendido e preparado pelo barista escocês Glenn Mc Donald e sua adorável esposa, a brasileira Milena, proprietários do Cornhills Coffee, ali na CLS 202. A casa leva o nome do bairro em que foi aberta a primeira cafeteria de Londres, nos idos de 1652, por um turco chamado Pasqua Rosee.

Glenn and Milena Mc Donald

Glenn nos contou que o sucesso foi imediato e logo dezenas de cafeterias se espalharam pela cidade, tornando-se centros da vida social, cultural, comercial e política da capital inglesa.

Era uma época em que a imprensa ainda engatinhava, os serviços de correios eram desorganizados e as cafeterias assumiram o papel de aglutinadoras e distribuidoras de notícias e informação.

Primeira cafeteria de Londres

As paredes das cafeterias ficavam repletas de anúncios de vendas e leilões e os negócios eram feitos saboreando uma boa xícara de café. Algumas pessoas passavam tanto tempo ali que a sua correspondência era entregue diretamente nas cafeterias.

Muitas dessas cafeterias deram início a instituições financeiras, como o Lloyds of London, a maior seguradora do mundo, e a London Stock Exchange.

Por ser um ambiente de "negócios", a maioria das cafeterias londrinas só permitia a entrada de homens. Em 1674, as mulheres inglesas chegaram a fazer uma petição contra o café, alertando para os incovenientes que a bebida trazia para o sexo ... é mole? Na verdade, elas morriam de curiosidade sobre o que mantinha os homens tanto tempo lá nas cafeterias.

Mulheres revoltadas jamais serão vencidas!

Mas, retornando à nossa degustação. O Jacu é um pássaro nativo da Mata Atlântica e pode ser encontrado em quase todo o país. No Espírito Santo, os cafeicultores derrubaram a mata nativa para plantar café, reduzindo fortemente as fontes de alimentação do pássaro.

O Jacu teve que se adaptar ao novo meio ambiente e passou a comer a cereja do café, que é o fruto ainda no pé. Sabe-se lá porque, os cafeicultores sentiram-se prejudicados e passaram a matar os pobres Jacus.

Agora é bom ser Jacu

O ser humano é terrível. Só muda quando enxerga alguma vantagem na mudança. Se a vantagem for financeira então ... Assim, quando um cafeicultor descobriu o preço do café Kupi Luwac, comido, digerido e evacuado por uma espécie de gato selvagem da Indonésia, a vida dos Jacus melhorou muito. Hoje, aqueles pássaros têm tratamento VIP.

O processo é simples. Assim como o tal gato, o Jacu come a cereja do café, digere e expele. Esse processo enzimático elimina a acidez do grão e proporciona um café bem suave. O outro aspecto positivo é que o Jacu seleciona o que come, ou seja, o sábio pássaro escolhe apenas as cerejas que estão em seu ponto ideal de amadurecimento. Afinal, é a comida dele e os grãos têm um grau inimitável de padronização.

Os grãos recolhidos passam por um processo seguro de higienização antes de serem colocados à venda, é claro.

O café realmente é suave, mas não empolga. Falta-lhe corpo e a crema é fraca. Retirar demais a acidez nem sempre é bom, pois essa característica é importante para a personalidade do café. Não sei se foi influência, mas o aroma final lembrou o cheiro de penas de pássaro.

Mas, é preciso assinalar que tratava-se de um espresso feito a partir de um único tipo de grão. Utilizado como parte de um blend, é possível conseguir resultados melhores.

Também degustamos o blend da casa. Glenn e Milena estão investindo numa marca própria e estão corretos. Essa é uma tendência internacional e é bom para se firmar no mercado, oferecendo mais opções aos clientes. Eles chegam lá.

O blend não é ruim e necessita ser mais trabalhado, mas como são apenas uma cafeteria, o casal tem encontrado dificuldades em relacão a fornecedores. Os grãos utilizados na composição do Café Cornhills vêm de fazendas paulistas, da região conhecida como Mogiana. Lá também é possível tomar excelentes cafés importados da Costa Rica, Jamaica e Etiópia.

Mas, a cafeteria Cornhills Coffee está investindo na gastronomia também e criou um cardápio de café da manhã com várias combinações, que é servido o dia todo. Estão estudando abrir mais cedo no sábado e também abrir aos domingos. O que seria uma benção. Atualmente, abrem de segunda a quinta às 8h30 até 22h; sexta de 8h30 a 0h; e aos sábados a partir das 13h até 0h. Não abrem aos domingos.

A novidade são as deliciosas panquecas no estilo americano, macias, aeradas, com Maple Syrup e tudo o mais a que temos direito. A cafeteria ainda serve almoço e uma boa variedade de sanduíches, crepes e petiscos.

Slurp!!!

Mas, ainda não acabou. O Cornhills Coffee tem uma agenda de shows musicais com bandas de jazz, country, música irlandesa e MPB. A programação pode ser consultada no site. Uma excelente pedida para um happy hour mais saudável e saboroso.


3 comentários:

Cartas de Brasília disse...

O post mostra que café também é cultura. Não basta saborear tem de ter referências históricas. Muito interessante as informações obtidas junto ao casal. Parabéns!

Anônimo disse...

sensacional a dica. já sabia da fama do jacu, mas não sabia onde experimentar. excelente matéria.

Anônimo disse...

O anônimo sou eu, Romualdo, o Mazzini, que esqueci de assinar